sábado, 9 de novembro de 2013

Teresina como um projeto de Cultura III




                                    Foto colhida no google 


Ana Regina Rêgo
Phd em Comunicação Corporativa. Mestre em Comunicação e Cultura. Jornalista. Consultora. Profa. PPGCOM-UFPI.              email: ana.rani@uol.com.br
                Em continuidade ao texto anterior e objetivando delinear um caminho de ideias simples que possam trazer a cultura para o protagonismo transformador em Teresina, retomo algumas linhas já tratadas aqui, para que possamos retomar o texto de onde paramos. Relembro ainda que não trato aqui da cultura somente em sentido artístico e estético, mas alargo o conceito para abarcar o sentido antropológico e até mesmo o polêmico sentido civilizador, pois creio que o processo educacional e civilizador pode inclusive salvar vidas. Não significa que eu considere em hipótese alguma, como cultura civilizada somente as culturas denominadas erudita ou alta, mas trago o conceito de civilidade, pelo viés da prática da educação para cultura, com vistas a pequenas mudanças nos hábitos sociais que podem trazer grandes transformações.
Em primeiro lugar relembro que nos textos anteriores ancorei a centralidade da cultura em nosso meio vinculando-a a cinco principais eixos: o primeiro deles focado na relação cultura e educação; o segundo focado na relação cultura, memória e identidade, o terceiro que se volte para a compreensão da cultura como elemento para a boa convivência na cidade, o quarto que reforce a interseção da cultura com o turismo, e, o último, porém não menos importante, que entenda as relações entre a cultura e o meio ambiente, ou seja, Teresina como um projeto de cultura deve entender cultura como um elemento essencial do processo educacional. Teresina como um projeto de cultura deve ter em mente a preservação do patrimônio e da memória. Teresina como  um projeto de cultura pressupõe entendimento urbanístico e arquitetônico que olhe para as características do nosso clima e trabalhe em cima de nossas peculiaridades. Teresina como um projeto de cultura deve ser também Teresina Sustentável e turística. E isto apenas inicialmente.
Relembro ainda que em um momento anterior tratei do tema da centralidade da cultura a partir da concepção de Stuart Hall,  que nos fala de  uma centralidade que se coloca para além dos antagonismos costumeiramente postos, tais como centro-periferia, alta e baixa cultura e propõe uma centralidade que dilui fronteiras, que inverte posições hierárquicas e que considera a importância dos processos culturais para a vida em sociedade. Para melhor apresentar seu raciocínio Hall fala de duas centralidades, a saber:_ a empírica e a epistemológica. A primeira seria “o lugar da cultura na estrutura empírica real e na organização das atividades, instituições, e relações culturais na sociedade, em qualquer momento histórico particular”. Já a segunda  é compreendida pelo autor aqui em pauta, como “à posição da cultura em relação às questões de conhecimento e conceituação, em como a cultura é usada para transformar nossa compreensão”.
Semana passada, desenvolvi a temática Teresina como um projeto de Cultura até a parte da boa convivência na cidade mencionando nossos dois principais problemas no momento atual e que são concernentes ao clima e ao trânsito, foquei no clima, mas não cheguei a desenvolver o sobre o trânsito. Teresina é hoje a campeã brasileira em mortes por acidentes no trânsito envolvendo motocicletas, sem contar a grande população de pessoas portadoras de deficiência que se forma a partir desses acidentes. Nesse sentido, pressuponho ser necessário educar para o trânsito e transformar culturalmente a conduta das pessoas, a partir não só de leis rigorosas, mas de uma fiscalização séria e  de efetivas punições. Educar a partir não de grandes campanhas publicitárias, mas de ações diárias e que aconteçam nos espaços comunitários em que as populações de usuários das motocicletas estejam presentes. Não se pode permitir que milhares e milhares de pessoas se exponham ao risco de morte iminente, simplesmente porque não usam capacete, ou porque, superlotem os veículos. Invariavelmente, encontramos motos com três ou mais pessoas, e, normalmente, só o motorista usa capacete, enquanto sua família se expõe ao risco.
No próximo  eixo e que propõe a interseção da cultura com o turismo, podemos articular política cultural de democracia participativa com o incentivo a criatividade, produção e circulação, com economia criativa e formação de coletivos e clusters artísticos, a iniciativas públicas ou privadas de construção e preservação de espaços culturais onde possamos estar presentes com  nossos valores, desde a forte culinária até as danças tradicionais. Impulsionando espaços permanentes e não somente eventos culturais sazonais, que é óbvio possuem sua função e seu valor, mas que  não substituem as iniciativas estruturais e permanentes. Por outro lado, acredito que precisamos conhecer o Piauí, pois pouco sabemos de nossas riquezas, a não ser o que já é propagado pela mídia como os parques nacionais e algumas cidades de reconhecido patrimônio histórico. Precisamos conhecer o nosso patrimônio imaterial para melhor valorizá-lo.
Nesse campo acredito em parcerias  público x privadas como meio de fomento ao processo articulador, pois a cadeia produtiva do turismo se beneficia dos valores culturais que tanto atrai os turistas, logo deve em contrapartida, apoiar os clusters criativos de modo que estes se tornem permanentes e sustentáveis e  atraiam mais e mais turistas conscientes.
No que se refere ao diálogo cultural necessário com o meio ambiente creio que este é o eixo em que os demais se encontram haja vista,  a necessidade de respeito ao meio ambiente para que possamos não somente saber conviver com nosso clima peculiar, mas para que possamos preservar a vida  de nossos rios, de nossa flora e de nossos animais, e por conseguinte de nosso futuro. Educar culturalmente para o respeito ao ambiente pressupõe um processo urbano não predatório e bem diferente do praticado nos dias de hoje pelas construtoras que em vez de mapear as árvores importantes do terreno onde pretendem construir, para depois situarem o projeto de um condomínio, por exemplo, preferem ir pelo caminho mais fácil e desmatar tudo, para depois plantar pequenos arbustos que não servem para melhorar nosso clima e nosso ar. Portanto, educar culturalmente nesse contexto é mais difícil ainda, uma vez que se trata de uma população que possui educação formal e dinheiro e não está disposta a ouvir e a entender que o processo de desmatamento praticado é extremamente prejudicial a nossa vida. Por outro lado, como se não bastasse o desmatamento constante, ainda se criam vias de acesso asfaltadas prejudicando o escoamento das águas e o aumento da carga térmica absorvida, consequente aumentando a sensação de calor para os habitantes do entorno.

Por fim retorno ao tema  da centralidade da cultura de modo holístico como aqui visto, lembrando que a centralidade da cultura proposta por Stuart Hall não se refere à  ocupação pela cultura de um centro privilegiado de emissão de mensagens e construção de discursos e sentidos que se manifestam a partir de um lugar de poder superior em relação aos demais campos sociais. No entanto, pressupõe uma onipresença da cultura na sociedade que a faça viva em todos os  seus aspectos.
Ana Regina Rêgo

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