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Ana Regina Rêgo
Phd em
Comunicação Corporativa. Mestre em Comunicação e Cultura. Jornalista.
Consultora. Profa. PPGCOM-UFPI. email:
ana.rani@uol.com.br
Em continuidade ao texto anterior e
objetivando delinear um caminho de ideias simples que possam trazer a cultura
para o protagonismo transformador em Teresina, retomo algumas linhas já
tratadas aqui, para que possamos retomar o texto de onde paramos. Relembro
ainda que não trato aqui da cultura somente em sentido artístico e estético,
mas alargo o conceito para abarcar o sentido antropológico e até mesmo o
polêmico sentido civilizador, pois creio que o processo educacional e
civilizador pode inclusive salvar vidas. Não significa que eu considere em
hipótese alguma, como cultura civilizada somente as culturas denominadas
erudita ou alta, mas trago o conceito de civilidade, pelo viés da prática da
educação para cultura, com vistas a pequenas mudanças nos hábitos sociais que podem
trazer grandes transformações.
Em
primeiro lugar relembro que nos textos anteriores ancorei a centralidade da
cultura em nosso meio vinculando-a a cinco principais eixos: o primeiro deles
focado na relação cultura e educação;
o segundo focado na relação cultura,
memória e identidade, o terceiro que se volte para a compreensão da cultura como elemento para a boa convivência
na cidade, o quarto que reforce a interseção
da cultura com o turismo, e, o último, porém não menos importante, que entenda as relações entre a cultura e o meio
ambiente, ou seja, Teresina como um
projeto de cultura deve entender cultura como um elemento essencial do
processo educacional. Teresina como um
projeto de cultura deve ter em mente a preservação do patrimônio e da
memória. Teresina como um projeto de cultura pressupõe
entendimento urbanístico e arquitetônico que olhe para as características do
nosso clima e trabalhe em cima de nossas peculiaridades. Teresina como um projeto de cultura deve ser também Teresina
Sustentável e turística. E isto apenas inicialmente.
Relembro
ainda que em um momento anterior tratei do tema da centralidade da cultura a
partir da concepção de Stuart Hall, que
nos fala de uma centralidade que se
coloca para além dos antagonismos costumeiramente postos, tais como
centro-periferia, alta e baixa cultura e propõe uma centralidade que dilui
fronteiras, que inverte posições hierárquicas e que considera a importância dos
processos culturais para a vida em sociedade. Para melhor apresentar seu
raciocínio Hall fala de duas centralidades, a saber:_ a empírica e a
epistemológica. A primeira seria “o lugar da cultura na estrutura empírica real
e na organização das atividades, instituições, e relações culturais na
sociedade, em qualquer momento histórico particular”. Já a segunda é compreendida pelo autor aqui em pauta, como
“à posição da cultura em relação às questões de conhecimento e conceituação, em
como a cultura é usada para transformar nossa compreensão”.
Semana
passada, desenvolvi a temática Teresina
como um projeto de Cultura até a parte da boa convivência na cidade
mencionando nossos dois principais problemas no momento atual e que são
concernentes ao clima e ao trânsito, foquei no clima, mas não cheguei a
desenvolver o sobre o trânsito. Teresina é hoje a campeã brasileira em mortes
por acidentes no trânsito envolvendo motocicletas, sem contar a grande
população de pessoas portadoras de deficiência que se forma a partir desses
acidentes. Nesse sentido, pressuponho ser necessário educar para o trânsito e
transformar culturalmente a conduta das pessoas, a partir não só de leis
rigorosas, mas de uma fiscalização séria e de efetivas punições. Educar a partir não de
grandes campanhas publicitárias, mas de ações diárias e que aconteçam nos
espaços comunitários em que as populações de usuários das motocicletas estejam
presentes. Não se pode permitir que milhares e milhares de pessoas se exponham
ao risco de morte iminente, simplesmente porque não usam capacete, ou porque,
superlotem os veículos. Invariavelmente, encontramos motos com três ou mais
pessoas, e, normalmente, só o motorista usa capacete, enquanto sua família se
expõe ao risco.
No
próximo eixo e que propõe a interseção
da cultura com o turismo, podemos articular política cultural de democracia
participativa com o incentivo a criatividade, produção e circulação, com
economia criativa e formação de coletivos e clusters
artísticos, a iniciativas públicas ou privadas de construção e preservação
de espaços culturais onde possamos estar presentes com nossos valores, desde a forte culinária até
as danças tradicionais. Impulsionando espaços permanentes e não somente eventos
culturais sazonais, que é óbvio possuem sua função e seu valor, mas que não substituem as iniciativas estruturais e
permanentes. Por outro lado, acredito que precisamos conhecer o Piauí, pois
pouco sabemos de nossas riquezas, a não ser o que já é propagado pela mídia
como os parques nacionais e algumas cidades de reconhecido patrimônio
histórico. Precisamos conhecer o nosso patrimônio imaterial para melhor
valorizá-lo.
Nesse
campo acredito em parcerias público x
privadas como meio de fomento ao processo articulador, pois a cadeia produtiva
do turismo se beneficia dos valores culturais que tanto atrai os turistas, logo
deve em contrapartida, apoiar os clusters
criativos de modo que estes se tornem permanentes e sustentáveis e atraiam mais e mais turistas conscientes.
No
que se refere ao diálogo cultural necessário com o meio ambiente creio que este
é o eixo em que os demais se encontram haja vista, a necessidade de respeito ao meio ambiente
para que possamos não somente saber conviver com nosso clima peculiar, mas para
que possamos preservar a vida de nossos
rios, de nossa flora e de nossos animais, e por conseguinte de nosso futuro. Educar
culturalmente para o respeito ao ambiente pressupõe um processo urbano não
predatório e bem diferente do praticado nos dias de hoje pelas construtoras que
em vez de mapear as árvores importantes do terreno onde pretendem construir,
para depois situarem o projeto de um condomínio, por exemplo, preferem ir pelo
caminho mais fácil e desmatar tudo, para depois plantar pequenos arbustos que
não servem para melhorar nosso clima e nosso ar. Portanto, educar culturalmente
nesse contexto é mais difícil ainda, uma vez que se trata de uma população que
possui educação formal e dinheiro e não está disposta a ouvir e a entender que
o processo de desmatamento praticado é extremamente prejudicial a nossa vida.
Por outro lado, como se não bastasse o desmatamento constante, ainda se criam
vias de acesso asfaltadas prejudicando o escoamento das águas e o aumento da
carga térmica absorvida, consequente aumentando a sensação de calor para os
habitantes do entorno.
Por
fim retorno ao tema da centralidade da
cultura de modo holístico como aqui visto, lembrando que a centralidade da
cultura proposta por Stuart Hall não se refere à ocupação pela cultura de um centro
privilegiado de emissão de mensagens e construção de discursos e sentidos que
se manifestam a partir de um lugar de poder superior em relação aos demais
campos sociais. No entanto, pressupõe uma onipresença da cultura na sociedade
que a faça viva em todos os seus aspectos.
Ana Regina Rêgo
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