Ana Regina Rêgo
Phd em Comunicação Corporativa. Mestre
em Comunicação e Cultura. Jornalista. Consultora. Profa. PPGCOM-UFPI. email: ana.rani@uol.com.br
Dentre os paradigmas urbanos
contemporâneos que veem mobilizando esforços e massa crítica em todo o mundo,
podemos mencionar o que propõe a cidade inteligente, capaz de gerenciar
recursos energéticos e combinar ações entre os diversos setores da complexa
logística de uma cidade.
É sabido que os aglomerados urbanos
constituem também espaços de concentração de problemas e o cenário futuro não é
animador, uma vez que o crescimento populacional está previsto para alcançar
cerca de 9 bilhões de pessoas em todo o globo em pouco menos de 30 anos. Em se
aumentando o número de pessoas, consequentemente o número de habitantes das
cidades também tende a aumentar consideravelmente.
Todavia, nem tudo nas cidades se
constituem em problemas e mesmo os temas mais complexos podem se transformar em
oportunidades. E é, portanto, em cima dos desafios gerados nesse ambiente que
novos modelos de desenvolvimento urbano estão sendo pensados.
Por um lado, prega-se um modelo de
cidade menor que possa gerenciar seus processos sem maiores problemas, de forma
direta e simples. Segmentos essenciais à vida humana como saúde, educação,
transporte e segurança, em um modelo de cidade pequena, necessitam de
infraestrutura menor e de um modelo de gestão simplificado.
Em outro prisma as grandes
metrópoles que raramente apresentam processo de involução populacional precisam
criar saídas inteligentes para os grandes problemas que prejudicam a vida das
pessoas. Nesse sentido e nesses
ambientes é que tem surgido diversos programas e projetos do que denominam de smart cities ao redor do mundo.
A gênese dos projetos que focam nas
cidades inteligentes tem como parâmetro o uso de tecnologias de informação e
comunicação para promover a integração entre os sistemas de logística e
fomentar a competitividade econômica por um lado, e a sustentabilidade ambiental e a qualidade de vida, por outro.
O sistema de gestão de uma cidade
inteligente deve integrar seus subsistemas
segmentados de modo integrado, sobretudo, buscando unir os dados dos
sistemas de energia, mobilidade, gestão da água e dos resíduos, segurança,
saúde e cultura com o sistema de gestão global.
Em muitas cidades brasileiras já
funciona o controle do tráfego em real
time e a gestão inteligente das áreas de estacionamentos. Por outro lado, o
monitoramento do consumo enérgico, a iluminação pública inteligente, os
sistemas de telegestão para as redes de
distribuição de água, dentre outros, são proposições que ainda não estão
presentes por aqui.
Considera-se que o grande desafio de
uma cidade inteligente é interligar a infraestrutura física que constitui uma
cidade com a infraestrutura digital e informativa.
Segundo Hollands (2008) existem
quatro diretrizes principais que devem guiar os projetos de smart cities, são elas: - tecnologias da
informação e da comunicação e nas infraestruturas em rede; desenvolvimento
urbano guiado pelo mercado; indústrias intensivas e indústrias criativas e,
preocupação com a sustentabilidade ambiental. Contudo, considerando que essas
premissas possuem como protagonistas as tecnologias e o mercado, o autor
mencionado propõe uma abordagem humana a partir do engajamento das pessoas no
processo de transformação da cidade em uma cidade inteligente e de preferência
sustentável e cultural.
É o diferencial humano que vai
facilitar a vida nas cidades inteligentes, em que os padrões tecnológicos devem
se adequar à cultura local e não o inverso. Devemos lembrar como nos fala o
autor acima, que as cidades devem se tornar inteligentes e sustentáveis para as
pessoas.
A Coreia do Sul adiantou-se ao
processo de transformação dos centros urbanos e está construindo a cidade de Songdo,
em uma ilha artificial a 56 km de Seul.
Projetada para possibilitar uma vida sem lixo, sem engarrafamentos, com
baixo consumo de energia e uso racional
da água e em uma interconexão total, Songdo começou a ser construída em 2000 a um custo estimado de US$ 35 bilhões e é o
segundo maior investimento privado do mundo.
Segundo John Chambers, CEO da CISCO “estamos construindo uma cidade que usará informação como
combustível. O centro de controle será o cérebro de Songdo”. Nessa cidade que
já está sendo considerada ultrapassada pelos novos projetos de cidades
informacionais, o sistema de coleta de lixo será automática, as luzes das áreas
públicas serão monitoradas e só acenderão quando houver necessidade. Além
disso, haverá um sistema de uso da água controlado e com alternativas para a
redução do consumo. Prevê-se que Songdo usará apensas 10% da água usada por uma
cidade comum e do mesmo porte. Essa
cidade está programada para receber até 65 mil pessoas.
Distante
dessa realidade encontramos as cidades piauienses, em que não há sequer
sistemas de esgoto e saneamento básico, muito menos um sistema de coleta
seletiva de lixo, ou ainda, a gestão do uso adequado e consciente da água. Por
outro lado, não existe controle do tráfego e as leis não são obedecidas. Motos
e carros disputam o espaço das vias públicas e os pedestres correm riscos o
tempo todo. O transporte público é insuficiente, muitas vezes inadequado e sem
qualidade, em outras, ou seja, na maioria das nossas cidades do Piauí, é
inexistente. Creio que devemos começar o dever o de casa com as tarefas mais
básicas e simples, como as mencionadas neste parágrafo. Acredito pois, que cidades inteligentes precisam de gestores inteligentes e ousados, capazes
de sair do lugar comum e propor melhorias reais para a qualidade de vida da
população.
Concluo com
o conceito de cidades inteligentes lançado pela INTELI-Inteligência e
Inovação, empresa sediada em
Lisboa. Para o pensamento dessa empresa
as cidades inteligentes serão em 2020 as
“cidades atractivas para talentos, visitantes e investidores pela
aliança entre a inovação, a qualidade do ambiente e a inclusão social e
cultural, num contexto de governação aberta e de conectividade com a economia
global, visando a qualidade de vida dos cidadãos”.
Texto publicado na Coluna Forum, Jornal O Dia, Caderno Em Dia, em 19 dez 2012.
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