domingo, 3 de novembro de 2013

CIDADES INTELIGENTES


Ana Regina Rêgo
Phd em Comunicação Corporativa. Mestre em Comunicação e Cultura. Jornalista. Consultora. Profa. PPGCOM-UFPI.              email: ana.rani@uol.com.br

            Dentre os paradigmas urbanos contemporâneos que veem mobilizando esforços e massa crítica em todo o mundo, podemos mencionar o que propõe a cidade inteligente, capaz de gerenciar recursos energéticos e combinar ações entre os diversos setores da complexa logística de uma cidade.
            É sabido que os aglomerados urbanos constituem também espaços de concentração de problemas e o cenário futuro não é animador, uma vez que o crescimento populacional está previsto para alcançar cerca de 9 bilhões de pessoas em todo o globo em pouco menos de 30 anos. Em se aumentando o número de pessoas, consequentemente o número de habitantes das cidades também tende a aumentar consideravelmente.
            Todavia, nem tudo nas cidades se constituem em problemas e mesmo os temas mais complexos podem se transformar em oportunidades. E é, portanto, em cima dos desafios gerados nesse ambiente que novos modelos de desenvolvimento urbano estão sendo pensados.
            Por um lado, prega-se um modelo de cidade menor que possa gerenciar seus processos sem maiores problemas, de forma direta e simples. Segmentos essenciais à vida humana como saúde, educação, transporte e segurança, em um modelo de cidade pequena, necessitam de infraestrutura menor e de um modelo de gestão simplificado.
            Em outro prisma as grandes metrópoles que raramente apresentam processo de involução populacional precisam criar saídas inteligentes para os grandes problemas que prejudicam a vida das pessoas.  Nesse sentido e nesses ambientes é que tem surgido diversos programas e projetos do que denominam de smart cities  ao redor do mundo.
            A gênese dos projetos que focam nas cidades inteligentes tem como parâmetro o uso de tecnologias de informação e comunicação para promover a integração entre os sistemas de logística e fomentar a competitividade econômica por um lado, e a sustentabilidade  ambiental e a qualidade de vida, por outro.
            O sistema de gestão de uma cidade inteligente deve integrar seus subsistemas  segmentados de modo integrado, sobretudo, buscando unir os dados dos sistemas de energia, mobilidade, gestão da água e dos resíduos, segurança, saúde e cultura com o sistema de gestão global.
            Em muitas cidades brasileiras já funciona o controle do tráfego em real time e a gestão inteligente das áreas de estacionamentos. Por outro lado, o monitoramento do consumo enérgico, a iluminação pública inteligente, os sistemas de telegestão para  as redes de distribuição de água, dentre outros, são proposições que ainda não estão presentes por aqui.
            Considera-se que o grande desafio de uma cidade inteligente é interligar a infraestrutura física que constitui uma cidade com a infraestrutura digital e informativa.
            Segundo Hollands (2008) existem quatro diretrizes principais que devem guiar os projetos de smart cities, são elas: - tecnologias da informação e da comunicação e nas infraestruturas em rede; desenvolvimento urbano guiado pelo mercado; indústrias intensivas e indústrias criativas e, preocupação com a sustentabilidade ambiental. Contudo, considerando que essas premissas possuem como protagonistas as tecnologias e o mercado, o autor mencionado propõe uma abordagem humana a partir do engajamento das pessoas no processo de transformação da cidade em uma cidade inteligente e de preferência sustentável e cultural.
            É o diferencial humano que vai facilitar a vida nas cidades inteligentes, em que os padrões tecnológicos devem se adequar à cultura local e não o inverso. Devemos lembrar como nos fala o autor acima, que as cidades devem se tornar inteligentes e sustentáveis para as pessoas.
            A Coreia do Sul adiantou-se ao processo de transformação dos centros urbanos e está construindo a cidade de Songdo, em uma ilha artificial a 56 km de Seul.  Projetada para possibilitar uma vida sem lixo, sem engarrafamentos, com baixo consumo de energia  e uso racional da água e em uma interconexão total,  Songdo começou a ser construída em 2000 a  um custo estimado de US$ 35 bilhões e é o segundo maior investimento privado do mundo.  Segundo John Chambers, CEO da CISCO “estamos construindo uma cidade que usará informação como combustível. O centro de controle será o cérebro de Songdo”. Nessa cidade que já está sendo considerada ultrapassada pelos novos projetos de cidades informacionais, o sistema de coleta de lixo será automática, as luzes das áreas públicas serão monitoradas e só acenderão quando houver necessidade. Além disso, haverá um sistema de uso da água controlado e com alternativas para a redução do consumo. Prevê-se que Songdo usará apensas 10% da água usada por uma cidade comum e do mesmo porte.  Essa cidade está programada para receber até 65 mil pessoas.
            Distante dessa realidade encontramos as cidades piauienses, em que não há sequer sistemas de esgoto e saneamento básico, muito menos um sistema de coleta seletiva de lixo, ou ainda, a gestão do uso adequado e consciente da água. Por outro lado, não existe controle do tráfego e as leis não são obedecidas. Motos e carros disputam o espaço das vias públicas e os pedestres correm riscos o tempo todo. O transporte público é insuficiente, muitas vezes inadequado e sem qualidade, em outras, ou seja, na maioria das nossas cidades do Piauí, é inexistente. Creio que devemos começar o dever o de casa com as tarefas mais básicas e simples, como as mencionadas neste parágrafo. Acredito pois, que cidades inteligentes precisam de gestores inteligentes e ousados, capazes de sair do lugar comum e propor melhorias reais para a qualidade de vida da população.

            Concluo com o conceito de cidades inteligentes lançado pela INTELI-Inteligência e Inovação,  empresa sediada em Lisboa.  Para o pensamento dessa empresa as cidades inteligentes serão em 2020 as  “cidades atractivas para talentos, visitantes e investidores pela aliança entre a inovação, a qualidade do ambiente e a inclusão social e cultural, num contexto de governação aberta e de conectividade com a economia global, visando a qualidade de vida dos cidadãos”.

Texto publicado na Coluna Forum, Jornal O Dia, Caderno Em Dia, em 19 dez 2012.

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